"Nenhum lugar a salvo". Trump aplica tarifas a ilhas de ursos polares e pinguins

por Andreia Martins - RTP
Glaciares de Svalbard e Jan Mayen, no Ártico. Foto: Anadolu via AFP

Nem os locais mais recônditos do planeta escaparam à fúria de Trump na aplicação de tarifas anunciada na última quarta-feira. Há casos de pequenas ilhas no Ártico e na Antártida e outras, praticamente despovoadas, que foram incluídas na lista de territórios visados pelas novas taxas alfandegárias norte-americanas.

A ilha de Heard e McDonald fica num local inóspito, acessível apenas através de uma viagem de barco de cerca duas semanas de viagem a partir de Perth, na Austrália.

Tem o maior vulcão ativo da Austrália, o Big Ben, e está coberta por glaciares. Não tem habitantes humanos nem qualquer tipo de construção: grande parte da população é constituída por pinguins-rei, uma espécie comum nas ilhas da Antártida.

Crê-se que a última vez que o ser humano se aventurou neste território foi em 2016, sendo este um raro exemplo do globo de um ecossistema praticamente intocado pelo ser humano.

Este território insular não tem praticamente qualquer negócio ativo, havendo apenas duas empresas australianas que pescam e exportam peixe desta zona do globo.

No entanto, as ilhas de Heard e McDonald incluem-se na lista de “territórios externos” da Austrália que são listados separadamente da lista de tarifas a aplicar, com uma tarifa de 10 por cento.

No caso da ilha de Norfolk, antiga colónia penal com uma população que não chega aos 2.200 habitantes, foi anunciada uma tarifa de 29 por cento, acima dos 10 por cento anunciados para o resto da Austrália. Este território situa-se entre a Austrália e a Nova Zelândia, a cerca de 1.600 quilómetros de Sydney.

George Plant, administrador da ilha, indicou ao jornal britânico The Guardian que não há registo de exportações de Norfolk para os Estados Unidos.

"Pelo que sei não exportamos nada para os Estados Unidos. Não cobramos tarifas sobre nada. Também não me lembro de nenhuma barreira não tarifária”, indicou o mesmo responsável à Associated Press.

Para o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, estes exemplos “mostram e exemplificam que nenhum lugar da Terra está a salvo”, afirmou na quinta-feira.
Mais ursos polares do que pessoas
Há também o caso da ilha de Jan Mayen, um pequeno território insular no Ártico com 55 quilómetros de comprimento com uma população de ursos polares superior à população humana.

Jan Mayen faz parte da Noruega desde 1930 e os únicos habitantes são mesmo militares do país e responsáveis do Instituto Meteorológico norueguês. A Associated Press procurou, sem sucesso, obter uma reação por parte dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros e do Ambiente da Noruega.

Mas as taxas não se ficam por aqui, também o pequeno arquipélago de Toquelau foi taxado com tarifas de Trump no valor de 10 por cento. Situado na Polinésia, no sul do Pacífico, este território é constituído por três ilhas com um total de dez quilómetros quadrados e tem um total de 1500 habitantes.

Toquelau é uma das mais pequenas economias da região, vive da agricultura de subsistência, da pesca e do financiamento da Nova Zelândia. Segundo Roland Rajah, economista chefe do Lowy Institute, um think tank australiano, considera vai ser difícil fazer com que o presidente norte-americano mude de ideias.

“Se estes países não receberam muita consideração em termos de quais as tarifas que lhes seriam impostas, dado o seu tamanho e obscuridade para a administração Trump, isso também poderá dificultar-lhes qualquer tentativa para negociar o fim destas tarifas”, afirmou.

Há também o caso da ilha Christmas, no Oceano Índico, que tem menos de 2.000 habitantes e que também enfrenta as novas tarifas norte-americanas. “Não há comércio entre a ilha Christmas e os Estados Unidos”, afirmou o presidente do território, Gordon Thomson, em declarações à Associated Press.

Admite que a única compra feita aos norte-americanos será a de máquinas do fabricante Caterpillar, do Texas, através da Tractors Singapore. E a única exportação deste território são fosfatos, para a Malásia, Indonésia, "talvez Tailândia" e “um pouco para a Austrália”.
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